Chaz Somers está deitado no sofá, como qualquer adolescente com sono no fim de um dia de verão. São 15:00h e ele foi acordado há cerca de uma hora, mas nem um cappuccino gelado foi capaz de despertá-lo totalmente, ele ainda boceja. Chaz tem 14 anos e uma tarde ensolarada pela frente.
Centro da cidade e turistas se misturam com os reflexos do Rio Avon, próximo ao local onde Ryan Butler está trabalhando. Ele tem um emprego perfeito para um garoto de 15 anos, que é montar e desmontar equipamentos para o festival Stratford Summer Music, que apresenta violinistas e estrelas da ópera, incluindo Ben Heppner.
Um terceiro membro de sua turma, Nolan Murray, também com 15 anos, passou a tarde com um amigo em uma trilha na floresta. Mais tarde, ele assiste a um filme, antes que sua mãe o leve para seu trabalho de meio período de lavar pratos no restaurante Kelsey.
Está faltando alguém nesse grupo. Seu nome é Justin Bieber, a celebridade de 16 anos de idade que irá apresentar-se neste sábado a noite no Air Canada Centre. Os ingressos foram oferecidos para revenda na sexta-feira por 515 dólares cada.
Bieber, com a voz clara, rosto doce e franja brilhante, está percorrendo o Canadá e os Estados Unidos esse ano – desde locais pequenos no estado até o Madison Square Garden. Ele possui mais de 4 milhões de seguidores no Twitter, o seu vídeo no YouTube ao lado do rapper Ludacris teve 294 milhões de visualições, sendo o mais assistido.
“Em um minuto você está andando por aqui, no Canadá, com ele, e seis meses depois ele está apresentando-se no mesmo local”, diz Chaz, que irá assistir ao show de Justin no domingo.
Chaz, Ryan e Nolan são amigos de Bieber desde o ensino fundamental. Eles são garotos animados, que gostam de sair e sentir a liberdade que acompanha a adolescência.
Atlético e competitivo, eles jogaram em times de hóquei e futebol juntos – o pai de Ryan, Martin, ainda é seu treinador. Nas fotos da equipe ao longo dos anos, Ryan e Justin sempre estavam próximos.
Os meninos podem andar de bicicleta e skate na Erie Street e Street Downie, que têm pouco movimento na cidade de 32 mil habitantes, e depois podem ficar até de madrugada assistindo à vídeos de comédia e dormir até a tarde do dia seguinte.
Pelo menos, eles podem, se o seu telefone parar de tocar. As chamadas vêm dia e noite para os jovens, e são de garotas do mundo todo – Equador, Austrália, Alemanha – todas fãs de Justin Bieber.
“Oi, é a Ashley. O Ryan está em casa?”. No Natal, a família Butler desligou seu telefone por três dias, pois as ligações não paravam.
Na segunda-feira, a família de Chaz recebeu mais de 20 chamadas de meninas com a Bieber Fever.
Uma semana antes, a mãe de Nolan, Andrea, que trabalha na inspeção de uma fábrica de aeronaves, encontrou um grupo de garotas de 13 anos ao lado de fora de sua casa, procurando por seu filho.
“Posso ajudar?”, perguntou ela, sem reconhecer nenhuma delas. “Nolan mora aqui?”, disse uma das meninas, pouco antes de fugirem correndo pela rua.
Nolan, entretanto, está mais interessado em sua moto Norco, que ele comprou e personalizou, com novos cabos, jatos e pedais. “Sua moto é tudo para ele”, conta a mãe.
Esportes, e não a música, sempre foi o que une os garotos. “Quando nos conhecemos eu não sabia que ele era um cantor”, contou Chaz, agora sentado com seu MacBook no colo sobre seu jeans cortado. “Eu sabia que ele era competitivo nos esportes. A primeira vez que eu o ouvi cantando foi o hino nacional.”
Isso causou uma primeira impressão memorável na família Somers, que tinha ingressos para a temporada para o time dos menores atletas de hóquei no Stratford Cullitons. Sua mãe, Lee, uma especialista de uma fábrica de peças automotivas, foi certificar-se de que os garotos haviam tirado os bonés para cantar o hino e também para ver se algum deles não estava cantando. Então, ela olhou para Justin, um garoto que ela não conhecia. “Eu fiquei arrepiada ao ouví-lo cantar. Eu poderia ter chorarado”, revelou Lee.
Há dois anos, quando Bieber contou para Ryan que ele estava indo para Atlanta para conhecer o promotor musical Scooter Braun, seu atual empresário, Ryan não pensou muito sobre isso, mas desejou sorte ao amigo.
Ele estava ciente de que Justin tinha dom para a música: ele aprendeu piano sozinho e podia tocar vários outros instrumentos. Ele foi motivado, apoiado, e postou seus vídeos cantando no YouTube.
“Eu não levei a sério no começo, então quando eu vi que ele iria assinar um contrato, eu me senti muito orgulhoso por ele e por como ele foi encontrado.”, contou Ryan. “Ainda assim, eu ia sentir falta dele e me senti triste, pois ele estaria um pouco ocupado para praticar esportes e fazer coisas como qualquer outro menino.”
Agora, a vida de cada um mudou em muitos aspectos – por um lado, eles podem aproveitar a vida de adolescente, e por outro, a falta de privacidade pode ser irritante. Mas a amizade com um garoto que tornou-se uma estrela não se alterou.
Alguns garotos de Stratford acompanham Justin na turnê, nessas três semanas de verão, como Ryan, que fez cerca de 10 viagens para visitar o amigo nos últimos 18 meses. Ele e outros amigos foram para Los Angeles para a festa de aniversário de Bieber, que ocorreu em março.
Alguns deles puderam conhecer os “novos amigos” de Justin. Chaz foi surpreendido ao encontrar e jogar basquete com Shaquille O’Neal, e Ryan estava calmo enquanto conheceu Miley Cyrus e Will Smith, mas quando encontrou-se com Eminem em um estúdio em Detroit, ele admitiu que estava ansioso.
Confiante, ele apertou a mão do famoso rapper. “Hey”, ele disse. “Justin foi lhe mostrando sua música e eu estava sentado atrás, observando.”
“Acho tudo isso muito divertido”, conta Chaz. “Justin é tão legal por nos trazer durante as viagens – na maioria das vezes ele leva um amigo com ele. Acho que esse verão foi um dos melhores. Mas eu estava feliz por estar em casa, eu senti falta da minha mãe, do meu pai e de estar com meus amigos.”
Os meninos são muito protetores com Bieber. “Quase todas as pessoas com quem eu converso, falam sobre o Justin”, Chaz continua. “Até mesmo os professores, eles perguntam: “Como está seu amigo, Justin?” Alguns até já me pediram por autógrafos para seus filhos ou ingressos para os shows.”
“Eu tento ignorar, não de forma rude, mas às vezes eles me perguntam sem parar. Eles não percebem que isso me incomoda. Eu não os culpo, é um assunto interessante, mas eu sou questionado o tempo todo.”
“Ele está milionário, nós temos que trabalhar e ganhar 10 dólares por hora”, conta Ryan. “Mas ele está trabalhando duro, realmente, eu tenho mais orgulho do que inveja.”
“Para ser honesto, eu não sinto isso”, diz Chaz. “É um trabalho difícil e eu não iria querer isso. Eu sou tímido, prefiro fazer algo diferente de me apresentar para mais de 10.000 pessoas.”
“Eu procuro por coisas em que sou melhor que ele, mas ele é ótimo em muitas coisas. Vou lhe mostrar coisas que eu posso fazer e, 20 minutos depois, ele está fazendo melhor do que eu. Coisas como um novo vídeo game ou manobras de skate.”
Eles tiverem que lutar com as novas identidades em que eles são os amigos de Justin Bieber, tanto na internet como em casa. “É assim que sou conhecido em Stratford”, diz Ryan, o mais velho de três irmãos. “Mas eu tenho uma vida normal, trabalho e vou a escola.”
Os pais dos meninos, entretanto, tentam mantê-los em seu próprio mundo. “É nosso dever mantê-los com os pés no chão”, conta Martin, administrador de sistemas.
A internet tem sido um problema. Hackers têm “roubado” as páginas dos garotos no Facebook, Twitter e e-mails. Eles tiveram que trocar suas senhas ou abrir novas contas, uma parte ruim de ser amigo de um famoso.
A mãe de Chaz, Lee, lembra de quando Bieber foi despedir-se antes de ir para Atlanta, em 2008. Era noite e ele estava visitando seus amigos, Chaz foi o último. Ela percebeu que Justin estava emocionado ao partir.
Chaz estava no porão jogando vídeo games, e então ela conversou com Bieber na cozinha sobre a amizade, lembrando-lhe da força de suas raízes – seus avós ainda vivem em Stratford – e de seus amigos de infância.
“Você vai ficar bem, tem um monte de amigos em Stratford”, ela disse a ele. “Nós não sabemos o que vai acontecer. Pode não funcionar, você pode voltar. Basta lembrar quem seus amigos são. Eles estarão aqui sempre por você, eles vão sempre ser seus amigos verdadeiros.”
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